quinta-feira, 19 de julho de 2007
Apresentação
Helena d'Ávila
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O visível e o sensível
Comentários sobre os trabalhos de Helena d’Avila
Texto de José Outeiral
Psicanalista. Curador da Casa de Cultura CEEE Érico Veríssimo
Tenho observado de longa data a criação artística de Helena d’Avila . Em seus trabalhos, especialmente um conjunto de obras realizadas entre 1995 e 2004, e tal como posso perceber, há um eixo comum, um desejo de expressão de sentimentos e percepções e um esforço de obter uma representação de algo que não está no exterior. Há uma procura em revelar ao outro uma intimidade do ser, signos do sagrado e do místico, do oculto, daquilo que não está visível, mas pressiona desde o interior.
Romaria, Assis, Crux, Mea Culpa, são algumas das denominações de seus quadros. O ultimo desta série Columba (2004) é, acredito, a representação do Divino, tão caro às nossas tradições religiosas. Sua pintura, a meu ver, tem um fundo suave, quase aquarelado, azul e vermelho, sagrado e profano, de onde surge –abruptamente?- um signo: uma cruz, o místico, o santo, o coração de Jesus.
Já foi dito que a arte é a cura de um vazio. Um vazio do homem contemporâneo, escravo de uma tecnologia sempre obsoleta, substituída por uma outra, nova, novidade incessante, frenética. As imagens –fotogramas de um filme? – de Helena d’Avila sugerem uma calma mística, um zazen, uma meditação: contraponto deste mundo pós-moderno.
Não cabe a um psicanalista, atraído pelas artes, “interpretar” o pintor. Como escreveu Octavio Paz, mexicano e ganhador de um premio Nobel, a biografia de um artista não deve ser mais do que um pé de página. Mas talvez possamos deixar voar nossos pensamentos. A nossa Helena é d’Avila, e não há como deixar de associar com Santa Teresa de Jesus, nascida em Ávila, a mística que escreveu o livro Castelo interior ou moradas, no século XVI, tratando dos processos internos. Helena d’Avila pinta seu castelo ou moradas interiores e deles emerge a religiosidade. A religiosidade, necessidade e criação do homem. A criatividade surge de um espaço transicional, nem criança nem mãe, espaço dos objetos e fenômenos tansicionais, espaço paradoxal onde se constrói o brincar (como sinônimo de espontaneidade e criatividade), lugar da criatividade humana, inclusive de sua religiosidade. E Helena brinca com pincéis, tintas e tela e nos mostra, provocativamente seus signos, sua mística. Será?
Em 2005 Helena nos mostra objetos que representam, digamos, canteiros floridos, reafirmação da vida. Da mística à vida. Passagens. Crescimento e maturidade de uma artista intimista.
Helena chega devagar, como sua obra sugere, mas vem com uma força tanto de conteúdo como da plástica. A vida é breve, mas a arte é longa.
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"Assis" - pigmento e gesso sobre tela, 150x150cm/1995
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"Mea Culpa" - acrílica e gesso sobre tela, 160x140cm/1996
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"canteiros" - tecido encerado e cola, 120 x 155cm/2005
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